"Nestes modernos tempos tudo é especial, maravilhoso, tudo é fora do vulgar e diferente de tudo o que mais há. Nestes tempos todos são únicos e extraordinários. Tomaram o "diferente" e guindaram-o a "melhor" e tantos há que nem repararam que ao ser todos diferentes se tornam, no pior sentido, afinal todos iguais.
Pegaram no amor e quiseram-o sublime, sublimado, que todos os amores só assim fazem sentido, é o que dizem. Pegaram nas fasquias e subiram-as, e tanto, ao ponto de acharem que quando as ultrapassam não é por o amor ser bom mas por a expectativa ser pequena.
Esquecem-se que o amor não é isso dos livros e dos filmes. O amor é feito por amadores, não é perfeito nem exótico nem ideal. É feito de asneiras, e de tentativa e erro. No amor, ao contrário dos filmes, não se fode sempre de soutien e as pessoas não saem da cama embrulhadas nos lençóis. Ao contrário dos filmes, as pessoas do amor dão puns, dão maus jeitos às costas a foder, têm borbulhas em sítios impróprios. Acham-se mais gordas e mais feias e olheirentas do que são, e acham-nas mais sexy e boazonas e fodíveis do que pensam. Dizem palavrões na cama e às vezes noutros sítios, mas ao contrário dos filmes ninguém diz, "si, si cariño" a menos que seja a gozar. As pessoas do amor apalpam-se, cheiram a roupa umas das outras e gostam, não fodem só depois de tomar banho nem têm sempre uma barba perfeita de três dias. O verdadeiro amor é ordinário e amador, mal preparado, e às vezes corre mal. As pessoas vêm-se sem querer ou não se vêm mesmo querendo. Mas é assim, é mesmo assim e talvez só seja bom quando é assim, com asneiras e tolices e coisas dificilmente confessáveis, com dias cheios de innuendos que acabam com os dois exaustos o fim de um dia qualquer a dizer "isto hoje foi um dia cansativo, se calhar fodemos amanhã", e outras vezes nem isso, olhamos uns para os outros e tem de ser agora, em cima do que calhar, com cuspo em vez de vaselina porque às vezes não há como resistir a um "enrraba-me já".
O mais extraordinário do amor, às vezes, é ser uma coisa ordinária, e ainda bem que sim."
by Menino de Sua Mãe